segunda-feira, dezembro 07, 2009

Aggerbæk

Toda a gente está vestida de preto. Ou é isso, ou estão só na bruma da voz...
Um contra-baixo no fundo, o foco no sítio certo...
Aaah... e o trompete! E o trompete... com os lábios. Com os lábios!...
Sorrio no meu canto e penso "estou na presença de um génio".
Deve ser estrabismo, porque quando te sentaste ao meu lado ía jurar que eras uma pessoa normal.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Velocidade do Som

Deixai-os adiantarem-se,
esfolarem-se,
pelo lugar dianteiro.
Quando nós chegarmos,
não haverá quem nos aponte o dedo,
porque no egotismo dos aplausos,
pisaram as minas,
abrindo caminho para nós,
os gloriosos atrasados.





segunda-feira, novembro 30, 2009

Debaixo do holofote somos cegos



É na penumbra da última fila do teatro que se vislumbra o espectáculo todo.

Don't Panic

Não há árvore de Natal.
Todos os indícios de um tempo normal estão para lá destas paredes envidraçadas.
Deixam-nos aqui encubados, tal como numa estufa, para amadurecermos nas condições ideais. O problema é que já estamos para lá de prontos e, se não baixamos imediatamente o nível do aquecimento central, vai haver uma catástrofe...

terça-feira, novembro 03, 2009

Prefácio

Uma tosse seca que arranha a garganta diz-lhe que nem todos os cigarros fumados à janela, na sombra do pensar, o fazem mais poético que duas estrofes e um verso.
A prosa caída nas folhas de um Outono noutro lugar, conta a história perdida nos anos de boémia entre ruelas e janelas que espelharam a luz do sol quando ainda se debatia com o tropeçar dos seus caminhos.
Foram dias em que só viu escuridão e luas de noites em que viajou para lá das barreiras do intransponível.
Sempre lhe foi mais fácil usar imagens como modo de compreensão do que palavras como modo de expressão. Por isso, ouvia mais do que falava e imaginava mais do que se explicava. Lia e viajava pelas letras de outros mas sentia tudo como se seu fosse. Por vezes tornava-se até difícil distinguir onde acabava um livro e começava a sua história...
Folheando as páginas amarelecidas, guardadas pela capa rija de um castanho livro, nascido e guardado pela madeira, levanta-se da poltrona velha mas confortável, que se moldou em tantas noites em branco, e vai até ao desaguar do Tejo. Encostado a esse velho amigo, que se abre naquele mar onde morrerá um dia,
desconhecido por todos,
senta-se e
contempla a viagem de mais uma imagem.

Quando todos os pontos são diferentes e
Qualquer vírgula muda uma ideia,
Ao incendiar um livro queima-se uma vida...
E perdem-se brisas que lambem a pele com distintos paladares.

You! Me! Dancing!

Se por um ano largasse tudo e me agarrasse a uma objectiva, poderia fazer fotografias com as minhas mãos e criar sonhos com as minhas perspectivas.
Como um crime de criança, foi um segundo em que pensei que há impossíveis que podem ser realidades e, entre o entrelaçar de uma melodia, escreveu-se a lápis a frase assobiada num só sopro. Há quem lhe chame “o sopro do coração”... eu cá chamo-lhe... submersão de dicotomias.
Mas, qual parábola circular, reiniciei o pensamento e percebi que o excepcional da vida não é o amor que alimentamos com memórias mas os momentos em que desafinamos no mesmo tom e, olhos nos olhos, nos rimos.
Disse-me ele que o pai lhe tinha ensinado que “a vida é um jogo, só temos de aprender a jogar segundo as regras” - depressa discordámos, como passamos os dias a fazer, em conversas intermináveis...

...Mão na roleta, a minha sorte pode ser mais negra que vermelha, mas os números são ímpares e inconfundíveis...

Ele achava que a vida era para ser levada com seriedade e eu murmurei que a vida devia ser tocada como uma música: respeitando os tempos, ouvindo os outros instrumentos e criando crescendos, explosões de vontades!... e momentos em que, do fim da nota ao entrar do silêncio, se tem o diálogo mais intimista de sempre...

...Mão no pulso, ainda estou viva. Sou um corpo que poderia não existir mas, sem ele, não poderíamos dançar ao som da vida...

... Anyone Can Play Guitar.

Entre acordar em fusos horários diferentes, perdeu-se qualquer coisa. E não foi uma hora para trás ou uma hora para a frente.
Já pensei que se pudesse deslocar-me rápido, podia fazer um jogo de arbitragem com o tempo. Mas ao voltar atrás não te encontraria... porque te moves de outra forma, porque andas com outros passos. Não encontraria o mesmo ar que respiro, inspiro e suspiro... Oxigénio e dióxido de carbono sempre me fizeram misturas dúbias.
Vim deixar os vestidos esvoaçantes, as sandálias que não pesam nos pés (e me deixavam andar solta e feliz e), ao levar as camisolas, volto mais nua do que depois de uma noite de amor.
Amor não existe, ou se esconde ou... Amor? - O que quer seja aquele entusiasmo.
Se acordei de um estado de esquizofrenia, uma raiva empedernida, escondida por baixo da cegueira do relâmpago, bateu com o punho na mesa! e, na madeira da mesa, mesa em que espalhei a minha vida, complicada e dividida, em pequenos objectos, pequenos e preciosos, pequenos e maiores do que qualquer explicação, fagulhas carpiram: “há algo em ti...”.

Sei que já te disse mas, (não sei se ainda te lembras) de te ter dito que me disseram que...
não sei falar de Amor.

E já me tinha esquecido de quem sou.

Verifiquemos: todos podemos fazer algo - passar de interessado a interessante é que exige um bocadinho mais de impulso. Mas deixei as sandálias na mala de Verão e as botas não me deixam ganhar grande altitude.
Se qualquer revolução se baseia em Amor, talvez isto seja uma pista...
Chega de revoluções! De guerras em conquistas, só fico mais velha.

Hoje sou quaretona e vou-me enroscar no sofá com uma amiga e um copo de vinho. Esperar que o álcool me desidrate o suficiente até sugar de mim todos os pensamentos que me arrastam.

terça-feira, outubro 27, 2009

Se Calhar...



Let me sing you a waltz, out of nowhere, out of my thoughts…
Let me sing you a waltz about this one night stand…


Havia uma porta vermelha naquela rua.
Tantas vezes passou por ela que deixou de se aperceber que ela ali estava.
O contraste feliz da porta em dias de nuvens brancas e fofas, esculpidas num céu azul de luminiscência ofuscante,
ou mesmo em dias cinzentos em que o vermelho era quase sangue,
fazia parte das pequenas coisas do dia-a-dia que passam para segundo (e terceiro... e, quarto...) plano na nossa atenção porque as temos como garantidas. E era vermelha.
Tinha pequenos rectângulos de vidro na parte de cima e rodeava-se de uma parede de tijolos castanhos, sujos pela intempérie, mas seguros por anos.
Tantas vezes passou por ali e nunca viu a porta vermelha abrir-se.
Tantas vezes por ali passou que a curiosidade de crescer para, finalmente, poder evitar saltos embaraçosos, e ver o que estava para lá da porta vermelha, também decidiu passar...
Encarnada como a carne que escondia por baixo da pele, a porta não envelheceu como as rugas do seu rosto.

Let me sing you a waltz, out of nowhere, out of my blues...
Let me sing you a waltz about this lovely one night stand...

Apaixonar-me-ei para sempre em Agosto.
Porque “um peito que canta o fado, tem sempre dois corações” e,
“eu não sei falar de Amor...”,
fiquemos só assim, de mãos dadas no banco do jardim.



Porque Paixão é muito mais do que uma porta vermelha e
Amor não se segura com tijolos.

sábado, outubro 03, 2009

Asas São para os Outros

Fosse a vida uma canção, não se compartimentariam os sonhos no cérebro para que, quando nos dá aquele friozinho na barriga que nos faz saltar o coração pela boca, evitemos mastigá-los sem sequer os saborear.
Por isso, racionalizemos o coração e deixemos as asas para os outros.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Hvad med dig?

Elas andam disfarçadas.
Disfarçadas de fome, aos pulos para sair, e a roubar tempo à minha concentração..
Elas, as Saudades, que só existem em Portugal, e com as quais sempre adiei uma conversa em torno de um café.
O café aqui é sempre mais longo e, eu, na minha ingenuidade e crítica voraz depressa lhe chamei criança perto da bica curta (como aliás, as meninas minhas amigas) e forte lisboeta.
Mas se tamanho não é sinónimo de eficácia (já diziam as minhas amigas...), lhes digo que o café aqui tem mais efeito em mim.

Mas porque é que de saudades foste falar de café?!

Bom, talvez porque
Nunca soube expressar a saudade mas, enquanto a guardo cá dentro, escrevo por fora.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Roubei Uma Loira

Roubei uma loira ao meu amigo.
Ele, com o seu charme já reconhecido perante toda a comunidade estudantil, perguntava-lhe que línguas é que ela falava... Quando ela, de entre outras, disse português, ele num rompante me chamou e quis exibir-me (talvez achando que isso o fosse ajudar ou tornar a conversa mais interessante...) Infelizmente para ele, ela começou a falar cada vez mais comigo (talvez tenham sido os meus olhos amêndoados ou um sentimento de que eu a compreendia melhor que qualquer um dos que a rodeavam numa pacífica luta pela sua atenção).
Ao fundo gritavam e erguiam em braços o vencedor do torneio de uísque - aquele que virou uma garrafa sozinho primeiro. E ela continuava a falar-me sobre os assuntos menos esperados numa festa, como se o mundo todo estivesse parado, em absoluto silêncio e, só eu existisse agora e a nossa conversa; como se fossemos amigas e aquele momento fosse tal e qual como as duas de pijama, num sofá, a conversar às 4h da manhã, as duas, sobre o sexto sentido das nossas vidas.
"Todos correm e tens que parar e perguntar «Porquê?», «Para onde?». Saber se preferes correr na direcção oposta. Mesmo que não saibas (porque não o saberás), se é o correcto. Ter coragem de o assumir mesmo que ninguém te entenda e te chamem até de louca. Fazer o queres e não o que os outros querem de ti."
Entre este jorrar de ideias (ela falava como se estivesse quase febril ao mesmo tempo que feliz por ser diferente e ter perdido tempo a pensar que poderia Querer Ser Diferente) fazia algumas pausas para tentar apanhar o fio à meada do seu próprio pensamento e aproveitava para perguntar-me: "...Percebes...?".
"Todos queremos viajar mas poucos sabem porquê. Eu sei! - para conhecer as gentes..." (e eu que só queria ver o sol pôr-se em diferentes tons...) "....Quero falar com as pessoas. Mas não sobre os assuntos de sempre, as perguntas cliché, os interesses socialmente desejáveis. Não. Não sobre o que deveriamos falar, mas sobre o que queremos, o que pensamos..." (e eu que só vejo perguntarem "de onde és?" "o que há de interessante no teu país?") "...A opinião das Pessoas do Mundo e não só dos que «têm direito à opinião»."
Entre este minuto e aquele, confessa-me que só estuda Gestão porque... era preciso. Na verdade, queria ser psicóloga - "Se o teu avô pintasse um quadro, um bom psicológo poderia dizer, por exemplo, que ele se casou sem realmente o desejar, que é mais feliz aqui do que ali e que prefere isto e aquilo, e que a sua personalidade desenha-se a cada traço seu... Só pelas suas formas, cor e composição. É isso que eu quero." (e eu que me pergunto todos os dias o que Eu quero...)
As pessoas já começavam a interrompê-la e a puxar-me aqui e ali... Ela termina dizendo: "Ser para sempre e, lutar por ser, uma criança na ingenuidade de querer saber tudo, e ouvir, e aprender, sem a mente fechada, pré-concebida, organizada e trabalhada pela sociedade em que querem que te insiras."
(E eu que roubei uma loira ao meu amigo, e ela roubou-me um momento para que eu pudesse roubar-lhe as palavras e saber agora expressar parte do que também eu quero).

sábado, setembro 05, 2009

2+3 = 5 Homens; 23 anos, 5 de Setembro

Se tivesse que dizer qual a minha paixão, diria que é... perder-me.
Por aí, por ali... e acolá despertar subitamente e perceber que tenho de virar à direita. Não que seja de direita (de esquerda não serei certamente) mas, algures no meio de me perder e encontrar o caminho, há um momento só meu, onde saboreio a liberdade de existir sem que saibam que por aqui ando, quem sou e o que já fiz.
Não é então tanto o perder-me que me apaixona, como o que encontro enquanto me perco.
Tantas vezes guiei o carro sem saber por onde ir, apenas tendo em mente a noção de que o rio estava naquela direcção ou o mar e a serra da minha vila solarenga eram marcos para o nascer e o pôr-do-sol. Aprendi também (em terras do Amor) a meter um selim debaixo do rabo e perder-me no equilíbrio de duas rodas. Agora, mais para Norte (que sempre me disseram era para qualquer deambulador - "O que é isto?" "Então!, uma palavra nova..." "Pois, bem me pareceu..." -, ponto assente na bússola), a conquista ("Se calhar é um termo um bocado medieval, não?!" "SE calhar É... não é?!?... Quer dizer, não andamos praqui a Con-quis-tar!...") escreve-se em letras minúsculas, tímidas, envergonhadas por tanto poderem dizer e tão pouco espaço ocuparem.
Aqui fora, um luar inexplicável debruçou-se sobre as águas do canal, mansas, numa noite absolutamente inesperada em Copenhaga.
Ao voltar para casa, desviei-me do grupo (tinha mesmo de fazer aquilo... para ti, por nós). E quando o relógio marcou a hora certa, cá estava eu, e tu (desse lado),
como nunca,
como sempre.

segunda-feira, julho 27, 2009

Os museus fecham à Segunda...

Beethoven - Fur Elise

... mas nas madrugadas ainda se faz arte.

quinta-feira, junho 25, 2009

Irreversible


Nota Mental: Atravessar as avenidas. Os túneis podem não ter saída.

quarta-feira, junho 24, 2009

Cartas como no Antigamente

Já não se escreve como antes, já não se espera como antes, já não se dança como antes...
A sedução corre a passos velozes e esquecemo-nos de como era inflamável a incessante vontade de ter o momento certo. Perderam-se os clássicos na evolução de prédios futuristas em zonas históricas e na troca de um selo tão nosso por um click instantâneo.
Eu gosto que sejamos os incompreendidos.
No dia em que me sentei naquele telhado de sempre, sobre as telhas laranjas devorava as imagens como se renascesse ali. Era como se entendesse tudo melhor depois de perceber mais aquele horizonte. Talvez por isso diga sempre que gosto mais de quem está perto de morrer.
Enquanto por aqui andamos, escrevemos argumentos para personagens que nunca respeitarão o diálogo. Vamos fingindo que não sentimos assim tanto, e que as palavras não precisam ser usadas porque tudo nos roça superficialmente, tal como os seixos que ías fazendo saltitar sobre a água do rio naquela tarde de Verão. Calças arregaçadas, esqueceste-te foi de ir mais além. De te lembrar que nada pára. E quando pára, afunda-se.
O nosso ritual acabou. Já não consigo discernir onde nos diferenciamos do resto. Agora somos iguais. E quando fecho os olhos, sentada no topo do telhado de sempre, já não me sinto acima de nada.
Assim como me prometeste que me levavas para uma tempestade tropical debaixo de um abraço, lambo o envelope e atiro ao vento a carta do antigamente, porque já me esqueci do seu destinatário.

quinta-feira, junho 11, 2009

Manel Cruz disse: "Eu podia estar mais perto do que eu queria para mim, só que eu já não sei ao certo onde foi que eu pensei chegar..."

E li: "Perguntem, perguntem-lhes: como compreendem eles todos, até ao último, onde está a felicidade? Oh, podem ter a certeza de que Colombo não era feliz na hora de descobrir a América, mas sim quando estava no processo de a descobrir; podem ter a certeza de que o momento mais alto da sua felicidade foi, talvez, três dias antes de ter descoberto o Novo Mundo, quando a tripulação amotinada por pouco não virou o galeão na direcção da Europa, caminho de volta! Não é o Novo Mundo que conta, nem o diabo que o carregue! Colombo morreu quase sem vê-lo e, no fundo, sem saber que o tinha descoberto. O que importa é a vida, apenas a vida - o processo da sua descoberta, ininterrupto e eterno, e não o facto de descobrir! Mas, falar para quê? Desconfio que tudo o que estou agora a dizer se assemelha tanto às frases feitas mais gerais que, decerto, me vão tomar por um colegial do primeiro ano que apresenta a sua redacção sobre o "nascer do Sol" ou, então, que talvez eu tenha tentado dizer alguma coisa mas, por mais que o desejasse, não consegui... acertar no "desenvolvimento". Vou, contudo, acrescentar que em qualquer ideia humana genial ou nova, ou simplesmente em qualquer ideia humana séria em vias de nascimento em qualquer cabeça, persiste sempre uma parte impossível de transmitir aos outros, nem que o autor escreva volumes inteiros e passe trinta e cinco anos a explicar a sua ideia; persistirá sempre alguma coisa que não quer sair do seu crânio e ficará consigo para sempre; com isso morrerá, sem ter transmitido a ninguém a parte talvez mais importante da sua ideia."


Fiódor Dostoiévski, em "O Idiota"

quinta-feira, maio 28, 2009

Oiçamos o 1º minuto e... Suspiremos...


Pensei que precisasse escrever algo para pôr isto aqui. Mas... não, não preciso.


...Posso dizer-vos que estão praí 35º...

sábado, maio 23, 2009

Já sei porque é que as minhas frases são tão compridas.

É porque os meus pensamentos são demasiado complexos para poderem ser separados por vírgulas e pontos que obviamente quebrariam o rastilho profundo e frenético que se acende em mim quando tenho uma idea.
Mas depois as pessoas dizem que não percebem. Que sou confusa.
Não percebo. Não VOS percebo. EU é que não Vos percebo. Afinal, toda a gente percebe a Teoria da Relatividade de Einstein. (Percebe?)
Bom, então se calhar sou mesmo eu que não sei escrever. Sim, devo ser eu que não sei escrever. Não sei escrever, não sei ver, não sei ver como me explicar... Ou se calhar és tu! És tu que não sabes o que é. Não sabes o que És. E ninguém quer um Homem que não sabe por que razão existe.
Põe os dois pés no chão e tenta olhar para o peso que deixaste marcado.
Agora tenta elevar-te...

domingo, maio 17, 2009

Menos de 3 é pecado

É preciso ter olho.

domingo, abril 19, 2009

Tudo Isto É Fado

Enquanto pensava para onde iria, onde seria a próxima jornada, gatafunhou num documento bem menos romântico do que uma folha que pudesse ser escondida como um tesouro...

Oiça Lá, Ó Senhor Vinho, Lá Vai Lisboa!...
Lisboa quer tanto ser a Parisiense que passa em Praga com um pé em Copenhaga. Balançar-se num Fado Corrido por Roterdão e ter Um Barco Negro atracado em Budapeste. Sabe-se Lá.
Para trás deixa-se Uma Casa Portuguesa. Deixa-se saudade...
Deixa-se... o que Nem Às Paredes Confesso.

Lisboa Antiga, fico contigo?

Em dias de espera, na incessante procura do futuro, pensou no passado e decidiu o presente.
Tão perto da cidade prometida, tão longe da coragem para o assumir.
“É um amor antigo.” - digo sempre.
Foi um amor perdido - a cidade que me roubou o primeiro amor.
E entreguei-me a Lisboa...
Por momentos pensei que se apagasse as luzes, a visão perderia terreno e os outros sentidos exaltar-se-iam sem censura.
Por momentos tentei ouvir-te (ou o que quer que seja que queres dizer com as palavras que proferes).
Por um momento, cheguei a inspirar-te sem nunca conseguir conhecer-te.
Mas já nos senti mais quentes. Já nos senti ao ponto de sentir muito mais do que sentir. Ao ponto de fazer bem mais do que quereria. De fazer o que queria mesmo.
Devíamos embebedar-nos em transpirações ofegantes e convidarmo-nos para amanhecer.
Porque quando partir, só levo a minha sombra. Essa que me segue até às mais longínquas terras, mesmo que o sol lá não brilhe, quando ligar o candeeiro e me lembrar de quando o desliguei nessa noite em que, por momentos, abdiquei dela para te ter a ti, Lisboa.

quinta-feira, abril 16, 2009

domingo, abril 05, 2009

sábado, março 28, 2009

Pleonasmo Tautológico



Quem conta um conto, acrescenta um ponto. E como uma gaveta desarrumada, meias para um lado, cuecas para outro, nem sei do par deste enredo:

Molhada de tão seca, estava a alegria estendida ao vento como lençóis brancos no Verão.
Era espantoso ver como ele andava rápido sobre aquele piso pedregoso. Cabeça erguida, quase parecia que de destemido voava até ao intocável. Ela, atrás, tentava acompanhar o passo, no seu jeito mais desengonçado, ainda punha os braços abertos em busca do equilíbrio, mantendo os olhos atentos a qualquer pedrinha instável que estaria, estrategicamente colocada, para lhe pregar uma partida – morria de medo que num simples passo em falso, torcesse o tornozelo. Ao olhar para tal figura, pergunta em tom jocoso:
- A menina nunca se magoou?
Ela pára e, recuperando o fôlego e alguma estabilidade diz-lhe, ainda que meio insegura:
- Depende da perspectiva.

A ciência não a ensinou a andar, a sentir, nem a ver. Ensinou-a a questionar e tentar compreender a visão periférica que molda o imagem.



“São as tuas mãos...” - já me dizia eu, em sonhos com ele – “...Enquadra a tua perspectiva: O que queres ver? Até onde queres ir?...” – só de pensar que podíamos desvendar os mistérios do mundo sem conhecer qualquer equação matemática... fosse o pêndulo da balança a nossa vontade. Por isso, escolhe a moldura: Quadrada? Ou sem fronteiras?.. Escolhe a cor e eu dou-te o tacto.
Imaginasse eu a transparência do teu ser, tiraria fotografias de nós, que jamais seremos relembrados, por nunca termos existido.

E pronto... abro o livro e começo a ler, porque paranóia tem muito mais estilo em inglês.


"Oren Lavie is a songwriter of curly brown hair, whisperish voice, green eyes and suspiciously cold feet. He was born in 1976, two minutes behind schedule, and has been trying to catch up ever since."

segunda-feira, março 16, 2009

Morphine Me Out

Está quase... Está quase.
Está quase a chegar a hora em que vou sentar-me naquele parapeito,
virada para o mar,
pés descalços,
somente com o resto do mundo à minha frente...

Ai, estas temperaturas!...

quinta-feira, março 05, 2009

Toca Saxofone Para Mim Enquanto A Lua Se Distrai

Sempre o imaginei sozinho.
Sozinho, sentado com um ar de quem sabe muito e pouco mostra. Ar de quem absorve, despercebido, o mais ínfimo detalhe de alguém tão vulgar quanto eu. Como alguém que, quando estender a mão, no passo mais determinado das suas incógnitas, será para agarrar. (É de notar que, não é tanto ele que não sabe por onde anda, como eu que não sei para onde ele quer ir.)
Sempre o imaginei do género de se sentar numa pequena mesa redonda, com lugar só para si próprio, num bar epicureu perdido numa obscura rua. As escadas de pedra negra de tão suja, ladeadas por um corrimão já enferrujado, como se para um club secreto se descesse, dariam a conhecer um sítio que ninguém conhece. Quem conhece, não fala. E quem lá vai (o nosso legítimo segredo), esconde a que lá pertence. E por horas não se queira pertencer a nada mais, senão ao Jazz.
Lado a lado, no nosso já tão marcado caminho de improvisação. Eu, sempre fora de tom, e tu a chegares-te, nos teus movimentos de sensual felino, um pouco mais, mostrando-me que não é tanto a ciência e o raciocínio a darem as cartas, como as palavras que não queremos pronunciar. Essa sim, é nota assente neste ritmo de faminta tentação: a atracção fatal pelas dançantes curvaturas da linha de fumo do cigarro que, esquecido até, pinta o ambiente.
Ao franzer o sobrolho, penso que o copo não está cheio... nem vazio.
Minto.
Não vejo.
Nem sei se é da bebida ser branca ou das dioptrias aumentarem quanto mais insisto em não ver definido.
Por isso, confio mais nos meus outros sentidos.
Por isso, mudo de perfume todos os dias. Para não criar recordações.
Há um veneno que conheço o cheiro. Mas a minha natureza diz-me que sou alérgica ao pó. E, por isso, só queria deixar uma pegada quando o chão quase me devorou o pé.
Enforcada pelos suspiros - merda de coração rebelde e estúpidas vontades – sou Homem!, em todas as minhas cruzadas com Pessoas que me mostrem os delínios da forma ilustre. E vou-me sentindo sempre um bocadinho maior do que o meu corpo e mais pequena do que os meus sonhos.
Pergunto-me se não devia ter embarcado no bacalhoeiro que jurara erguer as velas não só para guiar o veleiro, como para servir de tela a filmes que se justaporiam a todo um céu.
Mas, não mais longe do que no meu quarto, a maçaneta da porta contorce-se e,
ao ver-te, digo:
- “Could you show me dear... something I’ve not seen... something infinitely interesting…?
Não digo.
Mas sorrio.
E penso:
Não é mérito meu. É culpa tua.
Elabora. Enamora-te.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A Champagne Supernova In the Sky (Part III)

Num seis de saber, sabor a Novembro.
Houve um Verão em que acordava durante a madrugada com pedrinhas a bater na janela. Lá em baixo, a felicidade não aguentava por horas apropriadas. Não há relógio que contabilize o pulsar da paixão.
Numa noite inesperada, depois de alguns jarros, as conversas começaram a desenrolar-se por assuntos proibidos e discutidos com comentários eticamente incorrectos. A única saída airosa para o fim da conversa seria, exactamente, a praia que se encontrava mesmo à porta do bar. A praia onde o vento sempre foi um leve sopro para os enamorados e onde as estrelas tinham o poder especial de ofuscar qualquer dúvida.
O pouco equilíbrio e os espíritos alegres contribuíam para abraços e, de repente, ele aproveita um abraço para rebolar com ela duna abaixo. Quando as leis físicas permitiram a paragem, eles continuaram abraçados. Ela, incomodada com a areia em todos o sítios possíveis e imagináveis, não se mostrou muito romântica (quantas vezes teria que lhe ser lembrada a diferença entre o aceitável e o exagero das suas atitudes). Porém, ele já a conhecia e sabia que a tinha.
Naquele instante, a centímetros da sua cara, pareceu-lhe que a olhava há horas, que a conhecia há uma vida... e parecia que ela iria escapar-se-lhe por entre os dedos num instante. Num rompante, disse-lhe apenas uma palavra.
As lágrimas espreitavam e ele sentia-se envergonhado por achar humilhante, talvez, o seu discurso, ou precipitado; mas principalmente, as suas lágrimas.
A verdade é que ela não era tão intocável como se dizia, e para sempre sentiria um toque no coração quando se lembrasse daquele momento.
O rebolar na praia com uma confissão tornar-se-ia uma das recordações a que ela recorreria sempre que o misto de incertezas, misturadas com convicções de querer ficar com ele, a atormentavam.
Sem nada de extraordinário e, mesmo assim, especial, tantas vezes se deitariam na cama, debaixo de muitas mantas e um fofo edredon, a dar risadinhas e fazer comentários. Partilhando ideias e dando espaço para se conhecerem e reconhecerem... e depois.... um adormecia no meio da história do outro. O outro, quando se apercebia, calava-se, sorria, aconchegando-se para dormir também.

“Agora este pensamento meu, também é teu... assim como o resto de mim.”, foram as últimas palavras ditas.

Um dia ainda hei-de reescrever esta história.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Yucatán (Part II)

Vuo aroga erceesvr sem stednio aulgm. Pqroue, praa mim, faz sdnetio. (Se ao menos tudo fosse escrito...)
Deveria saber todas as línguas. Queria entender tudo o que me dizem. Mas às vezes não me dizem. Ou sou eu que não entendo.
Por isso, há gezelligheid com quem, por vezes, entendo.
É como a saudade e a
chuva.
São bonitas.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Take me to NY

Se pudesse descalçar a gravata e cantar o silêncio, dir-te-ia:
Take me to New York, because the last time I saw Paris...

terça-feira, janeiro 13, 2009

O Jardineiro ("Eu não fui feita para isto...!")

A meio da tarde, ainda de pijama (diz que só consegue estudar se estiver confortável), vai, por não conseguir estudar, rondar a cozinha - como desculpa a necessidade de ter que alimentar o corpo para o cérebro funcionar.
O resto da casa andava em afazeres mais desejados para um fim-de-semana solarengo como este inesperado a meio de Outubro. Havia um bater constante de portas, uma roda viva entre o jardim e o interior.
Quando ela percebeu que a única coisa que lhe apetecia era um pedaço de chocolate e uma caneca de chá (não que lhe apetecesse mesmo, mas a vontade para não estudar infectava a sua vontade para fazer qualquer outra coisa. Insistia sempre que o tempo era para estudar e que se não o fizesse, nada mais faria!, como se isso fosse punir alguém se não ela própria), dirigiu-se para as escadas, de volta para a masmorra... Mas, tal como nos filmes, exactamente no momento em que passava diante da porta de casa, bateram.

Abriu a porta do carro com uma cara de quem trazia uma bomba. Mas uma bomba daquelas que todos os núcleos de amigas íntimas sabem que dão azo a umas horas de conversa e extrapolações, piadas e revelações. Batendo a porta, o silêncio era consensual entre todas e, não denunciando um único traço de expressão facial que desmistificasse o que por aí vinha, disse:
- Chega de amores. Vou ter um caso com o jardineiro!
Riram-se. Já era comum entre elas este tipo de resoluções descabidas.
- Pensei que andavas em modo-estudo… O que é que se passou para te aflorarem tais ideias?
- Abri-lhe a porta apresentando a minha pessoa mais descuidada, e ele sorriu. Acho que uma mulher não precisa de mais.
- Mas um… jardineiro?!?
A reacção de incredulidade não era tanto sincera como mais um dos seus hábitos de dar uma falsa crença e importância aos acontecimentos, para que se pudesse extrair de uma simples banalidade todo o ridículo de tratá-la como se merecesse verdadeira consideração.
- Bom… não era o que tinha inicialmente planeado. Mas os planos foram feitos para serem alterados e há que ajustar as expectativas! E, afinal, se um médico trata de seres vivos… o jardineiro trata de plantas… que são seres vivos… logo... é quase como um médico!
- Bem que dizem que às vezes as coisas estão mesmo à nossa frente e só nós é que não as vemos!

Não posso precisar o que se seguiu... (até porque não estava lá) mas, quase que posso jurar que se deu um silêncio, uma troca de olhares... e certamente se desfizeram, em simultâneo, nas gargalhadas de sempre.
Porque assim é quando as pessoas se conhecem quase tão bem como a si próprias.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Slip Inside The Eye Of Your Mind (Part I)

Dizia que o meu gira-discos era a máquina do tempo.
Entretanto, constipei o meu computador e percebi que a minha antiga aparelhagem sofre de esquizofrenia.
Atirei-me para a cama e pus a rodar um velho cd numa velha pequena máquina.
Agora, encosta-te e recosta-te.
Vou contar-te uma história de quando, no meu tempo...

"So I start a revolution from my bed... "
"...Cos you ain't ever gonna burn my heart out."

quarta-feira, janeiro 07, 2009

I Recommend

"I recommend getting your heart trampled on to anyone
I recommend walking around naked in your living room
...
I recommend biting off more that you can chew to anyone
I certainly do
I recommend sticking your foot in your mouth at any time
Feel free"



I recommend going back to 1996.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Um Apêndice Para Ti, Um Coração Para Mim

É o tempo, é a evolução. É o macaco, a cauda e o Homem.
Somos o que precisamos ser. Somos o que podemos ser. Somos o que nos moldam a ser: O sonho, o filho, o irmão, o pai, o avô. E, por entre transformações, perde-se um apêndice, ganha-se um estômago maior.
É a lei da compensação. Como em tudo.
Acusam-na do contrário: Falta-lhe algo. Falta-lhe muito... (falta mais aos outros do que a ela própria)
Mas não o físico. Esse, espetar-lhe-iam um pau para ver se sangrava e pô-lo-iam a arder na fogueira se a fizesse parecer mais quente.
Parece que só tem aquele que não tem o feitio romântico e só se pinta de vermelho porque o sangue faz parte da natureza humana.