Já não se escreve como antes, já não se espera como antes, já não se dança como antes...
A sedução corre a passos velozes e esquecemo-nos de como era inflamável a incessante vontade de ter o momento certo. Perderam-se os clássicos na evolução de prédios futuristas em zonas históricas e na troca de um selo tão nosso por um click instantâneo.
Eu gosto que sejamos os incompreendidos.
No dia em que me sentei naquele telhado de sempre, sobre as telhas laranjas devorava as imagens como se renascesse ali. Era como se entendesse tudo melhor depois de perceber mais aquele horizonte. Talvez por isso diga sempre que gosto mais de quem está perto de morrer.
Enquanto por aqui andamos, escrevemos argumentos para personagens que nunca respeitarão o diálogo. Vamos fingindo que não sentimos assim tanto, e que as palavras não precisam ser usadas porque tudo nos roça superficialmente, tal como os seixos que ías fazendo saltitar sobre a água do rio naquela tarde de Verão. Calças arregaçadas, esqueceste-te foi de ir mais além. De te lembrar que nada pára. E quando pára, afunda-se.
O nosso ritual acabou. Já não consigo discernir onde nos diferenciamos do resto. Agora somos iguais. E quando fecho os olhos, sentada no topo do telhado de sempre, já não me sinto acima de nada.
Assim como me prometeste que me levavas para uma tempestade tropical debaixo de um abraço, lambo o envelope e atiro ao vento a carta do antigamente, porque já me esqueci do seu destinatário.
2 comentários:
Gostei e muito! Andas muito inspirada :P
Esperemos que o correio não devolva a carta. :)
Belo texto.
beijinhos
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