terça-feira, fevereiro 06, 2007

N.Y., Friday, 9 p.m.



A cama estava atolada de roupa. Vestidos, blusas reduzidas, saias... lingerie a espreitar pela gaveta, sapatos em pé e deitados no chão. Tudo de linhas delicadas e saltos bem finos e pontiagudos.
A casa-de-banho estava uma confusão. Era impossível pousar um alfinete na bancada. Tudo cheio de coisas necessárias. Mas, e daí... talvez coisas que ela nunca usou.
Imagino que tenha pegado na minúscula mala e saído porta fora ainda meio cambaleante, a tentar encaixar as sandálias à medida que andava, com uma perna para cima e outra a apoiar todo o corpo. O cabelo ía solto e, ao pisar a calçada, esvoaçou enquanto ela olhava para a rua que iria seguir.
Ía de vermelho, a femme fatale que, no entanto, nem se apercebia que o era.
Ao andar, num passo rápido, ainda a passar as mãos pelo cabelo, a ajeitar a alça do vestido vermelho, a ver se tinha posto tudo na mala, ía com a sua atenção no que faltava e, quando chegou ao fim da rua, lá levantou a cabeça rapidamente para ver onde era a continuação do seu percurso. Mas nem quando olhou para a rua nestes segundos se apercebeu que toda a rua a olhava, ainda continha a inspiração do perfume que ela deixou ao passar e guardava em segredo colectivo o desejo feminino de ser como ela ou, masculino, de a possuir.

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