segunda-feira, dezembro 03, 2007

Fantasias

Fantasias são extraordinárias formas de completarmos o presente, passado ou futuro. São formas de fuga (mesmo que não haja nada de que fugir, sem ser as limitações da vida). São imagens, deambulações, dissertações da nossa mente e desejo.
Em mim, e a meu ver, são saudáveis e permito-me essa suposta infidelidade ou pseudo-deslealdade à minha relação real.
Penso que a única exigência, o critério de admissão a este mundo, a esta janela, a esta viagem, é saber mantê-las (apenas) como uma fantasia. Porque a partir do momento em que se tornassem palpáveis, perderiam todo o seu fascínio.
Preenchem espaços que a nossa fome humana insaciável e complexa não deixa que os outros que aqui estão, ocupem.
Não sei se sou altruísta ao ponto de dizer que admito e não me custa que o meu parceiro também as tenha, porque nem todos temos as mesmas necessidades nem a mesma facilidade, sinceridade, abertura e honestidade ou mesmo percepção dos nossos desejos mais íntimos. Escondemo-los ou abafamo-los no nosso íntimo, com o juízo social a ecoar, enquanto estamos na nossa tribuna, censurando e repreendendo-nos, dizendo serem errados.
Talvez fantasie porque o meu cérebro está em constante funcionamento, em fabrico de pensamentos, e sabe-me bem, representa um desafio, saber o que me parece agradar e o que pareço cobiçar ao de leve em fantasia (algo basicamente carnal), e o que tenho na vida real.
Sei que na realidade, o toque quente de uma mão autêntica é muito mais forte do que um pensamento esvoaçante. E que uma fantasia pode tomar-nos horas a contruir-se e completar-se mas o aqui e agora, o que existe, é o que me faz estremecer.
Quando escrevo, desvendo-me e obrigo-me a conhecer-me e a afirmar com certezas o que me passa pela cabeça como um sopro, e apontar uma teoria coesa, consistente, coerente.
E por isso, não posso deixar de declarar que a minha mente tem muita força, e com ela posso fazer tudo, fantasiando.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Cegueira Voluntária

Se existir chão, correrei.
Se houver sítio, sentar-me-ei.
Se estiver calor, aí permanecerei até que a vontade mude, a estação se vá.
Lá fora, o céu molha tudo e os limpa-pára-brisas são demasiado rudimentares para atingir a visão, a mente humana.
Cegos, continuamos a dirigir-nos ao tão aclamado Norte, fechando as portas à esquerda e à direita e até mesmo a bagageira.
Compartimentamos nas malas todo o peso das memórias e esperemos que lá fiquem estagnadas.
Quem é que disse que olhar para trás é mau?

quarta-feira, novembro 28, 2007

Esperar na Idade dos Porquês

A idade dos porquês é quando uma mulher quiser.
Mostra vontade de crescer,
mesmo já tendo supostamente crescido para lá dessa idade.
Viverei na idade dos Porquê's para sempre...
Quem não questiona, acomoda-se a apenas respirar e aceitar o que lhes é dado, ou dito.
Nos Porquês está a rebelião. Está a necessidade de assimilar para rebater ou justificadamente concordar, de consciência tranquila (para quem a tem).

Ando com pressa de me mover para o futuro
Há em mim uma vontade de respirar todo o ar que os pulmões suportem de uma só inspiração…
Há uma euforia a alimentar.

quinta-feira, outubro 25, 2007

A viver no Alasca há uma semana

Anda num género de dia interminável, vai para a cama mas o sono não existe, simplesmente entra num modo pseudo-knock-out. Acorda e parece que não dormiu.
Costumava acordar com preguiça e vontade de se espreguiçar. Agora acorda com uma corrente eléctrica a percorrer-lhe o corpo. Acorda já com a ideia que há algo que deve fazer. Mas não sabe bem o que é. É estranho... Achava que havia algo de errado em querer estar na cama mais umas horas, talvez porque incutem essa ideia, mas agora parece que sente falta dessa calma. Sente-se constantemente em falta com algo, algo que tem que acontecer para voltar a sentir-se "normal", mas o mais frustrante é que não sabe o que é. Está em sítios mas não lhe parece nada que esteja lá. Não se sente dentro deste corpo. É como se tivesse que estar noutro sítio. Mas não sabe onde.
Têm sido as horas mais estranhas do meu ano.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Fiona Apple

Extraordinary Machine

Paper Bag

Fast As You Can

Zero 7


Somersault


Home

sábado, junho 23, 2007

"Listen when I'm silent... There's a sound that only you can hear"

Guardo... E faço-o porque quando partilhei tive que apelar à minha inocência. Prometer que o pensamento era vão, que nada significava. Pisar o sentimento porque não era adulto, coerente, possível.
Talvez haja um problema de expressão, ou uma linha de diálogo difusa, em que o que parte de mim, transforma-se pelo caminho e chega ao outro lado completamente diferente.
Talvez sejam só maneiras de pensar diferentes, diferentes estradas, diferentes destinos.
Talvez seja esta a bifurcação no nosso tempo em que cada lado tem o limite máximo de um viajante.
Mas os talvez não levam a lado nenhum... só ajudam a perceber que há algo de errado neste sitio.
Porque onde há uma questão, não há uma certeza.

sábado, abril 14, 2007

Sexta-Feira 13

Se existem ou não, não sei. Não sabemos. Mas as histórias deles vão-se espalhando de boca em boca. E mesmo que se lhes acrescentem um ponto, a dúvida sobre a sua veracidade permanece.
Se estão entre nós, é engraçado, como seres inteligentes, acharmos que especialmente hoje e, agora que falamos deles, eles apareçam.
E por mais inseguras que fiquemos, o medo entranha-se de uma forma estranha e não nos impede de pedir mais uma história. Aliás, a curiosidade e a insaciedade que nos são inerentes, fazem-nos pedir mais uma e ainda outra.
A inexistência de vida nas ruas, a noite e o silêncio destas horas da madrugada trazem uma carga simbólica gigante.
Trazem mais medo, mais inquietação.
O culminar é o susto final!
Arranca-se! e implora-se que não se fale mais nisso.
....Agora só queremos conseguir dormir para chegar o amanhã....


E lembrar que antes gritaste uma palavra e um estranho te sorriu...
Brutal.

sábado, março 24, 2007

Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és...

Será que isso quer dizer que não nos definimos a nós próprios, sozinhos?
Teremos que andar com a nossa definição noutra pessoa?
Não consigo estabelecer um padrão nas minhas amizades... Nem percebo porque é que tenho que ter um conjunto semelhante de amigos. Na verdade, se pensar ao longo dos tempos, já me dei com pessoas completamente opostas. Será que isso quer dizer que não tenho um mínimo traço de personalidade definido? Quererá dizer que por gostar de pessoas tão diferentes, não gosto verdadeiramente de nada?
Acredito na versatilidade, numa mente aberta a todas as ideias novas e no saber ver diferentes coisas em diferentes pessoas. Não querendo isso, necessariamente dizer, que eu sou o espelho das pessoas com quem me dou.
..."Os opostos atraem-se"...
..."Normalmente, damo-nos bem com as pessoas com quem nos identificamos, com quem temos algo em comum"...
- O mundo não sabe o que quer...

Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és?
Bullshit!
Acho que queremos simplificar demasiado o ser humano, quando a sua beleza está na sua complexidade.

Ídolos

Vão e vêm... mudam com o tempo e connosco.
Nunca consegui eleger uma pessoa como um ídolo. Vou arrancando fragmentos de uns e outros; de pessoas ao meu lado e do outro lado do mundo.
Observo o social... quase sempre... e sempre muito. Gosto de arrancar aquele segundo de qualquer um que tenta esconder algo menos superficial. Gosto de descobrir aquilo que parece tão importante não revelar, sendo que, normalmente, ficaria tão melhor à vista de todos.
Por vezes, sem procurar, descobrimos coisas ou, neste caso, pessoas, que desejávamos ter conhecido há mais tempo....

terça-feira, março 06, 2007

Para: Brandão e restantes OUTcubus

Delirei na primeira aparição no Pavilhão Atlântico, tenho muita pena de não ter comparecido no Coliseu.
Lembro-me bem como foi estar no meio da multidão e quase perder o equilibrio por haver tanta gente em êxtase total.
As marcas das grades que hoje carrego são vãs e lembram-me sempre de odiar um pouco mais a banda.
O último album é um desvio absoluto de quem foram, em tempos de glória merecida.
A "Love Hurts" causa-me náuseas após as piadas intermináveis a que permite perderem a graça. A "Kiss to Send Us Off" simplesmente irrita-me.
E, sinceramente, não sei se estou a ser justa... Imparcial, jamais! Os cd's que lhes reconheço vão de Fungus Amongus a Crowd Left Of The Murder (e já é puxadito).
Não reconheço a banda sequer. O Brandão anda para ali em danças amaricadas, mãos à Amália, para não falar das luvinhas que levam a alguns minutos de alucinação - devia ser das calças que lhe apertavam os neurónios. Aquela coisa branca que nem sei o que lhe chamar e o chapéu que ... nada trazia de positivo. O Mike agarrava a guitarra só porque sim. O Kilmore mexia um bocadito nas suas maquinetas e nos tempos mortos sorria para o público. O baixista, cujo nome nem será aqui escrito deve achar que toca ali numa banda de reggae de putos betos de Cascais e o Pasillas também não deve ter transpirado muito - afinal maior parte das músicas foi tocada da maneira mais homossexualmente calma possível.
Não devo deixar de mencionar o que realmente fica da noite - desilusão, desperdício de dinheiro e tempo, constatações bastantes acertadas da minha cara amiga B.: havia pessoas mais interessantes no público do que no palco, o concerto acabou antes de pessoas em Lisboa acabarem de jantar, há seguranças com um dente a menos que mereciam ficar sem todos, há raparigas que mereciam morrer, "pane.. pane, quê? paneLEIROS!"; da cara colega Ra.: "Desculpa lá mas não tenho onde as pôr"; do ilustre F. e da minha cara amiga Re.:(cuja memória me falha para uma afirmação marcante nesse dia específico mas recorda-me de outra noite - "e a cintura! oh meu deus, ele não tem ideia..." e "[qualquer coisa como «extrovertida»] -ok... podes pôr o tempo! ok... 'tas a ver a Sailormoon? -...Não? -oh, assim não sei explicar!" -> Respectivamente). Ah, o F. também referiu aquando da majestosa subida do vocalista dos More Than a Thousand para o palco: "parece um porquinho..." - e relembrando-me de outras intervenções (que vou poupá-lo de referir), posso concluir que este homem é implacável. Nada lhe escapa e nada perdoa. É bom ter mais um no grupo :p
Quero acabar agradecendo aos 4 que me acompanharam e principalmente ao "sorriso do engate" da B. que mudou por completo a minha visão do mundo e suas seduções.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

"Freak On a Leash"

Não gosto de falta de determinação.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Tempo de Mudar, Tempo de Esquecer

Quando erramos e, mais ou menos desesperadamente tentamos agarrar o que nos escapa por entre os dedos, dizemos de tudo um pouco... mas mais daquilo que se quer ouvir: Mudei.
Mas... se houve mudança... bem, terá sempre que haver um período de desconfiança e, se tudo correr bem, seguir-lhe-à um de reconquista. Mas se se chega ao ponto de dizer: mudei, já não sou quem era, quem conheceste... Então... já não te conheço! Então, és um estranho. Então... se nada mais há de comum com o passado, nada mais há que me una a ti.
Conversas pseudo-profundas com objectivos completamente opostos, contradições...
Se esquecer, é porque não me faz falta. Se quiser, volto a aprender.

"Repercutir-se na vossa simpatia? Nem Jesus, nos seus mais aureos dias, se envolvia de uma aura de afecto e simpatia comparáveis com a emanada na vossa presença.. Poderás pensar em exagero, num estado de alma exacerbado mas a verdade é que a vossa simples companhia traz luz, brilho, perfume, encanto às nossas humildes vidas... E cabe-te a ti, enquanto pessoa dotada de atributos excepcionais e de um carácter inequivocamente distinto, pesar as consequências pesarosas inerentes à tua ausência... Choro, lamento e rogo para que venham..."

Se eu não tivesse um cérebro, talvez...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

N.Y., Friday, 9 p.m.



A cama estava atolada de roupa. Vestidos, blusas reduzidas, saias... lingerie a espreitar pela gaveta, sapatos em pé e deitados no chão. Tudo de linhas delicadas e saltos bem finos e pontiagudos.
A casa-de-banho estava uma confusão. Era impossível pousar um alfinete na bancada. Tudo cheio de coisas necessárias. Mas, e daí... talvez coisas que ela nunca usou.
Imagino que tenha pegado na minúscula mala e saído porta fora ainda meio cambaleante, a tentar encaixar as sandálias à medida que andava, com uma perna para cima e outra a apoiar todo o corpo. O cabelo ía solto e, ao pisar a calçada, esvoaçou enquanto ela olhava para a rua que iria seguir.
Ía de vermelho, a femme fatale que, no entanto, nem se apercebia que o era.
Ao andar, num passo rápido, ainda a passar as mãos pelo cabelo, a ajeitar a alça do vestido vermelho, a ver se tinha posto tudo na mala, ía com a sua atenção no que faltava e, quando chegou ao fim da rua, lá levantou a cabeça rapidamente para ver onde era a continuação do seu percurso. Mas nem quando olhou para a rua nestes segundos se apercebeu que toda a rua a olhava, ainda continha a inspiração do perfume que ela deixou ao passar e guardava em segredo colectivo o desejo feminino de ser como ela ou, masculino, de a possuir.