terça-feira, janeiro 13, 2009

O Jardineiro ("Eu não fui feita para isto...!")

A meio da tarde, ainda de pijama (diz que só consegue estudar se estiver confortável), vai, por não conseguir estudar, rondar a cozinha - como desculpa a necessidade de ter que alimentar o corpo para o cérebro funcionar.
O resto da casa andava em afazeres mais desejados para um fim-de-semana solarengo como este inesperado a meio de Outubro. Havia um bater constante de portas, uma roda viva entre o jardim e o interior.
Quando ela percebeu que a única coisa que lhe apetecia era um pedaço de chocolate e uma caneca de chá (não que lhe apetecesse mesmo, mas a vontade para não estudar infectava a sua vontade para fazer qualquer outra coisa. Insistia sempre que o tempo era para estudar e que se não o fizesse, nada mais faria!, como se isso fosse punir alguém se não ela própria), dirigiu-se para as escadas, de volta para a masmorra... Mas, tal como nos filmes, exactamente no momento em que passava diante da porta de casa, bateram.

Abriu a porta do carro com uma cara de quem trazia uma bomba. Mas uma bomba daquelas que todos os núcleos de amigas íntimas sabem que dão azo a umas horas de conversa e extrapolações, piadas e revelações. Batendo a porta, o silêncio era consensual entre todas e, não denunciando um único traço de expressão facial que desmistificasse o que por aí vinha, disse:
- Chega de amores. Vou ter um caso com o jardineiro!
Riram-se. Já era comum entre elas este tipo de resoluções descabidas.
- Pensei que andavas em modo-estudo… O que é que se passou para te aflorarem tais ideias?
- Abri-lhe a porta apresentando a minha pessoa mais descuidada, e ele sorriu. Acho que uma mulher não precisa de mais.
- Mas um… jardineiro?!?
A reacção de incredulidade não era tanto sincera como mais um dos seus hábitos de dar uma falsa crença e importância aos acontecimentos, para que se pudesse extrair de uma simples banalidade todo o ridículo de tratá-la como se merecesse verdadeira consideração.
- Bom… não era o que tinha inicialmente planeado. Mas os planos foram feitos para serem alterados e há que ajustar as expectativas! E, afinal, se um médico trata de seres vivos… o jardineiro trata de plantas… que são seres vivos… logo... é quase como um médico!
- Bem que dizem que às vezes as coisas estão mesmo à nossa frente e só nós é que não as vemos!

Não posso precisar o que se seguiu... (até porque não estava lá) mas, quase que posso jurar que se deu um silêncio, uma troca de olhares... e certamente se desfizeram, em simultâneo, nas gargalhadas de sempre.
Porque assim é quando as pessoas se conhecem quase tão bem como a si próprias.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Slip Inside The Eye Of Your Mind (Part I)

Dizia que o meu gira-discos era a máquina do tempo.
Entretanto, constipei o meu computador e percebi que a minha antiga aparelhagem sofre de esquizofrenia.
Atirei-me para a cama e pus a rodar um velho cd numa velha pequena máquina.
Agora, encosta-te e recosta-te.
Vou contar-te uma história de quando, no meu tempo...

"So I start a revolution from my bed... "
"...Cos you ain't ever gonna burn my heart out."

quarta-feira, janeiro 07, 2009

I Recommend

"I recommend getting your heart trampled on to anyone
I recommend walking around naked in your living room
...
I recommend biting off more that you can chew to anyone
I certainly do
I recommend sticking your foot in your mouth at any time
Feel free"



I recommend going back to 1996.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Um Apêndice Para Ti, Um Coração Para Mim

É o tempo, é a evolução. É o macaco, a cauda e o Homem.
Somos o que precisamos ser. Somos o que podemos ser. Somos o que nos moldam a ser: O sonho, o filho, o irmão, o pai, o avô. E, por entre transformações, perde-se um apêndice, ganha-se um estômago maior.
É a lei da compensação. Como em tudo.
Acusam-na do contrário: Falta-lhe algo. Falta-lhe muito... (falta mais aos outros do que a ela própria)
Mas não o físico. Esse, espetar-lhe-iam um pau para ver se sangrava e pô-lo-iam a arder na fogueira se a fizesse parecer mais quente.
Parece que só tem aquele que não tem o feitio romântico e só se pinta de vermelho porque o sangue faz parte da natureza humana.