segunda-feira, junho 26, 2006

A Ilha

Domador da vela e do vento. Olhar fixo, com um djambé nas mãos e uma guitarra nos sentidos.
Depois de um longo dia de verão, oferece conversa à janela com um robe branco e um copo de leite.
À noite, a areia é a única que percebe o que ele expressa gestualmente.
E de madrugada, bem... de madrugada, dá-se por completo, de corpo e de alma...
Mas acaba por caminhar sozinho na volta para casa.
Porque o corpo mentiu todo o dia e a alma apenas se mostrou pela fresta de uma fechadura.


...E quem perceber, ponha o dedo no ar!

sábado, junho 24, 2006

Nos momentos em que não faço nada...

O que significa "para sempre"?
O que é o Sempre? O que é o Nunca? ...
O que é o Tudo? O que é o Nada? ...





Para uma mente prática todos os conceitos abstractos são difícieis de assimilar, de compreender ou de navegar na sua essência...
Quem já fechou os olhos e tentou, através de uma concentração profunda, sentir o que seria "não sentir"? O que acontece quando morremos...? Como será "não existir"?

Tudo isto quando sinto que sou ridícula com os meus so-called "problemas", debaixo de um céu infinitamente estrelado.

quarta-feira, junho 21, 2006

"O mais histericamente histérico de mim" F.P.

Onde está a linha que separa a sanidade da insanidade mental?
Onde quer que esteja, é certamente ténue e gosta de submergir num nevoeiro qualquer para que nos interroguemos acerca de quem está do lado de lá mas, principalmente, quem está do lado de cá.
Existem especulações sobre o facto dos heterónimos de Fernando Pessoa surgirem de esquizofrenia. A esquizofrenia tem, desde sempre, sido considerada por excelência, a doença sinónimo de loucura incurável. É uma situação que leva o doente a confundir a fantasia com a realidade e coloca em crise as suas relações consigo próprio e com o mundo.


"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar." F.P.

"Num dia em que finalmente desistira - foi em 8 de Março de 1914 - acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. (...) E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente - uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nesta altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num acto, e à máquina de escrever, sem interrupção, nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro Campos - a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem." F.P.


Fernando Pessoa em carta a Adolfo Casais Monteiro:
“Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histeroneurasténico. Tendo para esta Segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos - felizmente para mim e para outros - mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher - na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas - cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais: assim tudo acaba em silêncio e poesia.”


A personalidade múltipla está classificada entre os transtornos dissociativos porque existem várias personalidades dentro de uma só pessoa e essas personalidades não são necessariamente patológicas.
No transtorno de personalidade não há amnésias, mas uma conduta rotineiramente inadaptada socialmente. O aspecto essencial da personalidade múltipla é a existência de duas ou mais personalidades distintas dentro de um indivíduo, com apenas uma delas a evidenciar-se a cada momento. Cada personalidade é completa, com suas próprias memórias, comportamento e gostos de forma bastante elaborada e complexa. As personalidades são bastante independentes umas das outras sendo possível inclusive terem comportamentos opostos, por exemplo, uma sendo sexualmente promíscua e outra recatada. Em alguns casos há um completo bloqueio de memória entre as personalidades, noutros casos há conhecimento podendo gerar rivalidades ou fraternidades. O observador externo que só conheça uma das personalidades não notará nada de anormal com esta pessoa. As personalidades podem ser do sexo oposto, ter idades diferentes e até de outras raças.
O aspecto central da despersonalização é a sensação de estar desligado do mundo como se, na verdade, estivesse a sonhar. O indivíduo que experimenta a despersonalização tem a impressão de estar num mundo fictício, irreal mas a convicção da realidade não se altera.

Fernando Pessoa era absolutamente genial. Se louco, admiro-o mais que muitos sãos.
Talvez vá escrever uma inconveniência, but I'm gonna say it anyway... A personalidade múltipla deve ser das coisas mais extraordinárias que existem! Uma só mente que se transforma, molda, acredita, vive e sofre como se outras fosse. Um cérebro humano que consegue conceber múltiplas personalidades e delas criar arte distinta.
Vasta e profunda, a obra de Fernando Pessoa é contraditória, desconcertante e paradoxal.

Jack Nicholson no filme “Voando Sobre Um Ninho de Cucos” interpreta o papel de alguém que se passa por louco e faz de loucos o mais sãos possível. O seu espírito livre faz com que o poder o prenda para todo o sempre… ou pelo menos até que um louco aja com a coerência de uma mente sã e decida soltá-lo.

Felizmente, recordei Fernando Pessoa na mesma tarde do dia em que vi o filme. Um dia harmoniosamente maníaco. Espero, sinceramente, andar pela realidade e voar um pouco por uma loucura que me faça mais sadia.

sábado, junho 17, 2006

Sinergia

Vou pôr a língua de fora para apanhar e saborear todas as gotas que caírem das nuvens, os braços esticados com as mãos abertas para agarrar o mapa das constelações quando o vento o soprar, e descalçar-me para sentir na pele o toque de todo o grão de terra que pisar.
Uma das coisas mais grandiosas que podemos adquirir com alguma sede ou algum sacrifício é o conhecimento.
O que vier pela sede deste, é insaciável. O que vier pelo sacrifício ou acaba no necessário ou, por vezes, dá à luz o bichinho da curiosidade.
De qualquer das formas, é das coisas que, uma vez adquirido, ninguém nos pode tirar. Como a idade... E é precisamente essa que o vem buscar quando decide trazer a falta de memória para visitas mais amiúdes.
É a sabedoria de uma mente humana que faz esse um ser mais forte.
No entanto, quem muito pensa, pouco sente... ou pouco se deixa sentir. E é o sentimento que verdadeiramente une as pessoas.
Sendo o Homem um animal social, são-lhe absolutamente indispensáveis as relações.
Também das relações com os outros extraímos e criamos, nós próprios, força.
Aprendendo, ensinando, força para crescer, discernir, perceber, aceitar e rebelar no viver.
Unindo forças para que se crie uma sinergia vital... porque, eu e tu juntos somos mais do que separados.

terça-feira, junho 13, 2006

Tic Tac, Tic Tac

A beleza é como um estado de espírito e a dúvida é o começo da sabedoria.
Se é quando fugimos que estamos mais sujeitos a tropeçar, então, é incrível como a falta de alternativas clareia a mente.
Se nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir, somente correr não adianta. É preciso chegar a tempo!
Porque não arriscar nada... é arriscar tudo...


Conselhos ao Consumidor (de táxis e automóveis de aluguer)

  • Não é permitido ao motorista a recusa de prestação de serviço que lhe é solicitado, a não ser que implique a circulação em vias manifestamente intransitáveis ou em locais que ofereçam perigo para a sua segurança e a do veículo ou, ainda, que sejam solicitados por pessoas com comportamento suspeito de perigosidade.
  • Para que o consumidor tenha todas as informações sobre preços, os táxis são obrigados a exibir um autocolante não transparente, afixado no vidro lateral esquerdo, virado para o respectivo interior, com o tarifário em vigor.
  • Em caso de trajectos que envolvam vários tipos de tarifas, o motorista deverá avisar o cliente no momento em que é feita a alteração de tarifa a aplicar.
  • Nos veículos equipados com taxímetro, a contratação de um serviço via telefone, colocado nas praças, por telemóvel ou central rádio-táxi, implica o pagamento de um suplemento. Nos veículos sem taxímetro, também poderá ser cobrada essa taxa.
  • Já nos serviços urbanos contratados, o motorista só deverá accionar o taxímetro no momento em que chega ao local de chamada. Para os serviços suburbanos, o motorista accionará o taxímetro no limite da sua zona urbana.
  • O motorista tem ainda o especial dever de tratar o cliente de forma educada, bem como de escolher o trajecto mais curto para o destino indicado pelo cliente.
  • O transporte de bagagem só pode ser recusado nos casos em que as suas características prejudiquem a conservação do veículo.
  • É obrigatório o transporte de cães-guia de passageiros invisuais, de cadeiras de rodas ou outros meios de marcha de pessoas com mobilidade reduzida, bem como de carrinhos e acessórios para o transporte de crianças.
  • Da importância paga pelo consumidor será obrigatoriamente emitida uma factura, podendo este legitimamente recusar-se ao pagamento, caso o mesmo lhe não seja entregue.

Fonte: Decreto Lei n.º 251/98, de 11 de Agosto

Textos gentilmente elaborados por: DECO

A cópia destes conselhos é dedicada à minha amiga Joana, que um dia saiu de um táxi e fez com que o taxista fosse expulso da praça de táxis do aeroporto.

sábado, junho 10, 2006

Alguém, Algures, Amanhã


Sei que sempre fui impaciente. Talvez tenha sido isso que me tenha levado a conseguir muitas coisas e a perder outras. Pode parecer por vezes, ambição... Se positiva, espero que seja isso mesmo. Não quero ser mais uma pessoa... Quero ser mesmo "alguém".

terça-feira, junho 06, 2006

O Bom Vivant

Em cada minuto que passa, 60 segundos de vida.
Os 86.400 segundos de um dia significam 86.401 oportunidades de fazer algo.
Cada conhecido, um possível amigo; a cada olá, um sorriso caloroso; e com cada convite, um passaporte de viagem.
O caminho é percorrido com sede de conhecimento, vontade de transcender o percorrido pelo Zé Ninguém nº2014 na estação do Chiado.
É com a paixão que coloca em tudo, que desperta os demais da monotonia quotidiana. É por saberem que ao seu lado há a arte de produzir ar fresco e novo que lhe dizem "Sim".
O mundo é o objecto de estudo e a música é a sua língua, o seu escudo e o seu êxtase.
Se ao menos o seu corpo não precisasse de descansar, ele poderia viver duas vezes.
E duas vezes não bastariam...
O bom vivant é aquele que passa pela vida no gerúndio de Viver.

domingo, junho 04, 2006

As Boas Consciências

"Heróis, diz ele, pois é necessário heroísmo para lutar incessantemente contra o desejo de ser cego. É necessário heroísmo para assumir esse saber que só vós tereis e que os ignorantes, escandalizados não vos perdoarão. Diante das visões excessivas que tereis de suportar, prossegue o guia, sabereis reagir com aquilo que Salomão considerava a mais elevada dádiva ao homem: um coração inteligente. Só um coração inteligente vos dará forças para viver com esse saber excessivo."

As Boas Consciências, Lydie Salvayre

quinta-feira, junho 01, 2006

Problema De Expressão

Na cama, "To Sheila" - Smashing Pumpkins.
Passo os dedos pelo cabelo e deixo as madeixas deste deslizarem por entre os dedos até que estes cheguem à sua ponta e o cabelo caia, inerte. Não há uma única vez que seja exactamente igual. Nada é. Nenhuma parte do nosso corpo, nenhum momento, ninguém.
O cabelo é apenas uma parte deste corpo disforme, desta cabeça baralhada. E nesta mão só me saiu palha. Os Áses não sei na mão de quem estão. Ou se calhar acho que sei... ou ainda um outro se calhar: se jogasse uma damita talvez me safasse esta vaza.
Já todos sabemos que ao ler um texto várias interpretações poderão surgir; ao falarmos, nem sempre nos entendemos... mas o gesto também causa dúvidas.
A dança da sensualidade e do querer nem sempre é dançada nas vezes que desejada. Mas quando o é... quando o é, é mais excitante do que... do que qualquer certeza. As certezas não são muito excitantes...(Pelo menos não algum tempo após o seu conhecimento)
Há todo um circuito dentro de nós que ganha kWh e a nossa mente cria um magnetismo com a força contrária do íman do desejado.