segunda-feira, novembro 30, 2009

Debaixo do holofote somos cegos



É na penumbra da última fila do teatro que se vislumbra o espectáculo todo.

Don't Panic

Não há árvore de Natal.
Todos os indícios de um tempo normal estão para lá destas paredes envidraçadas.
Deixam-nos aqui encubados, tal como numa estufa, para amadurecermos nas condições ideais. O problema é que já estamos para lá de prontos e, se não baixamos imediatamente o nível do aquecimento central, vai haver uma catástrofe...

terça-feira, novembro 03, 2009

Prefácio

Uma tosse seca que arranha a garganta diz-lhe que nem todos os cigarros fumados à janela, na sombra do pensar, o fazem mais poético que duas estrofes e um verso.
A prosa caída nas folhas de um Outono noutro lugar, conta a história perdida nos anos de boémia entre ruelas e janelas que espelharam a luz do sol quando ainda se debatia com o tropeçar dos seus caminhos.
Foram dias em que só viu escuridão e luas de noites em que viajou para lá das barreiras do intransponível.
Sempre lhe foi mais fácil usar imagens como modo de compreensão do que palavras como modo de expressão. Por isso, ouvia mais do que falava e imaginava mais do que se explicava. Lia e viajava pelas letras de outros mas sentia tudo como se seu fosse. Por vezes tornava-se até difícil distinguir onde acabava um livro e começava a sua história...
Folheando as páginas amarelecidas, guardadas pela capa rija de um castanho livro, nascido e guardado pela madeira, levanta-se da poltrona velha mas confortável, que se moldou em tantas noites em branco, e vai até ao desaguar do Tejo. Encostado a esse velho amigo, que se abre naquele mar onde morrerá um dia,
desconhecido por todos,
senta-se e
contempla a viagem de mais uma imagem.

Quando todos os pontos são diferentes e
Qualquer vírgula muda uma ideia,
Ao incendiar um livro queima-se uma vida...
E perdem-se brisas que lambem a pele com distintos paladares.

You! Me! Dancing!

Se por um ano largasse tudo e me agarrasse a uma objectiva, poderia fazer fotografias com as minhas mãos e criar sonhos com as minhas perspectivas.
Como um crime de criança, foi um segundo em que pensei que há impossíveis que podem ser realidades e, entre o entrelaçar de uma melodia, escreveu-se a lápis a frase assobiada num só sopro. Há quem lhe chame “o sopro do coração”... eu cá chamo-lhe... submersão de dicotomias.
Mas, qual parábola circular, reiniciei o pensamento e percebi que o excepcional da vida não é o amor que alimentamos com memórias mas os momentos em que desafinamos no mesmo tom e, olhos nos olhos, nos rimos.
Disse-me ele que o pai lhe tinha ensinado que “a vida é um jogo, só temos de aprender a jogar segundo as regras” - depressa discordámos, como passamos os dias a fazer, em conversas intermináveis...

...Mão na roleta, a minha sorte pode ser mais negra que vermelha, mas os números são ímpares e inconfundíveis...

Ele achava que a vida era para ser levada com seriedade e eu murmurei que a vida devia ser tocada como uma música: respeitando os tempos, ouvindo os outros instrumentos e criando crescendos, explosões de vontades!... e momentos em que, do fim da nota ao entrar do silêncio, se tem o diálogo mais intimista de sempre...

...Mão no pulso, ainda estou viva. Sou um corpo que poderia não existir mas, sem ele, não poderíamos dançar ao som da vida...

... Anyone Can Play Guitar.

Entre acordar em fusos horários diferentes, perdeu-se qualquer coisa. E não foi uma hora para trás ou uma hora para a frente.
Já pensei que se pudesse deslocar-me rápido, podia fazer um jogo de arbitragem com o tempo. Mas ao voltar atrás não te encontraria... porque te moves de outra forma, porque andas com outros passos. Não encontraria o mesmo ar que respiro, inspiro e suspiro... Oxigénio e dióxido de carbono sempre me fizeram misturas dúbias.
Vim deixar os vestidos esvoaçantes, as sandálias que não pesam nos pés (e me deixavam andar solta e feliz e), ao levar as camisolas, volto mais nua do que depois de uma noite de amor.
Amor não existe, ou se esconde ou... Amor? - O que quer seja aquele entusiasmo.
Se acordei de um estado de esquizofrenia, uma raiva empedernida, escondida por baixo da cegueira do relâmpago, bateu com o punho na mesa! e, na madeira da mesa, mesa em que espalhei a minha vida, complicada e dividida, em pequenos objectos, pequenos e preciosos, pequenos e maiores do que qualquer explicação, fagulhas carpiram: “há algo em ti...”.

Sei que já te disse mas, (não sei se ainda te lembras) de te ter dito que me disseram que...
não sei falar de Amor.

E já me tinha esquecido de quem sou.

Verifiquemos: todos podemos fazer algo - passar de interessado a interessante é que exige um bocadinho mais de impulso. Mas deixei as sandálias na mala de Verão e as botas não me deixam ganhar grande altitude.
Se qualquer revolução se baseia em Amor, talvez isto seja uma pista...
Chega de revoluções! De guerras em conquistas, só fico mais velha.

Hoje sou quaretona e vou-me enroscar no sofá com uma amiga e um copo de vinho. Esperar que o álcool me desidrate o suficiente até sugar de mim todos os pensamentos que me arrastam.