segunda-feira, setembro 21, 2009

Roubei Uma Loira

Roubei uma loira ao meu amigo.
Ele, com o seu charme já reconhecido perante toda a comunidade estudantil, perguntava-lhe que línguas é que ela falava... Quando ela, de entre outras, disse português, ele num rompante me chamou e quis exibir-me (talvez achando que isso o fosse ajudar ou tornar a conversa mais interessante...) Infelizmente para ele, ela começou a falar cada vez mais comigo (talvez tenham sido os meus olhos amêndoados ou um sentimento de que eu a compreendia melhor que qualquer um dos que a rodeavam numa pacífica luta pela sua atenção).
Ao fundo gritavam e erguiam em braços o vencedor do torneio de uísque - aquele que virou uma garrafa sozinho primeiro. E ela continuava a falar-me sobre os assuntos menos esperados numa festa, como se o mundo todo estivesse parado, em absoluto silêncio e, só eu existisse agora e a nossa conversa; como se fossemos amigas e aquele momento fosse tal e qual como as duas de pijama, num sofá, a conversar às 4h da manhã, as duas, sobre o sexto sentido das nossas vidas.
"Todos correm e tens que parar e perguntar «Porquê?», «Para onde?». Saber se preferes correr na direcção oposta. Mesmo que não saibas (porque não o saberás), se é o correcto. Ter coragem de o assumir mesmo que ninguém te entenda e te chamem até de louca. Fazer o queres e não o que os outros querem de ti."
Entre este jorrar de ideias (ela falava como se estivesse quase febril ao mesmo tempo que feliz por ser diferente e ter perdido tempo a pensar que poderia Querer Ser Diferente) fazia algumas pausas para tentar apanhar o fio à meada do seu próprio pensamento e aproveitava para perguntar-me: "...Percebes...?".
"Todos queremos viajar mas poucos sabem porquê. Eu sei! - para conhecer as gentes..." (e eu que só queria ver o sol pôr-se em diferentes tons...) "....Quero falar com as pessoas. Mas não sobre os assuntos de sempre, as perguntas cliché, os interesses socialmente desejáveis. Não. Não sobre o que deveriamos falar, mas sobre o que queremos, o que pensamos..." (e eu que só vejo perguntarem "de onde és?" "o que há de interessante no teu país?") "...A opinião das Pessoas do Mundo e não só dos que «têm direito à opinião»."
Entre este minuto e aquele, confessa-me que só estuda Gestão porque... era preciso. Na verdade, queria ser psicóloga - "Se o teu avô pintasse um quadro, um bom psicológo poderia dizer, por exemplo, que ele se casou sem realmente o desejar, que é mais feliz aqui do que ali e que prefere isto e aquilo, e que a sua personalidade desenha-se a cada traço seu... Só pelas suas formas, cor e composição. É isso que eu quero." (e eu que me pergunto todos os dias o que Eu quero...)
As pessoas já começavam a interrompê-la e a puxar-me aqui e ali... Ela termina dizendo: "Ser para sempre e, lutar por ser, uma criança na ingenuidade de querer saber tudo, e ouvir, e aprender, sem a mente fechada, pré-concebida, organizada e trabalhada pela sociedade em que querem que te insiras."
(E eu que roubei uma loira ao meu amigo, e ela roubou-me um momento para que eu pudesse roubar-lhe as palavras e saber agora expressar parte do que também eu quero).

1 comentário:

nata disse...

Ah sua dupla postadora..era este que eu queria comentar! Ia dizer que essa pessoa não sabe muito de psicologia! Mas já não me lembro porquê. Tinha toda uma pseudo-teoria porque na altura, estava numa de achabaçar alguma coisa. Mas agora..foi-se.

Ainda assim gostei do devaneio da loira...

E são textos destes que eu gosto em ti.