Deambulando por qualquer pensamento que surja, qualquer experiência que se dê e qualquer emoção que irrompa e desperte a vontade de gravar o momento para que o tempo não o consuma.
sexta-feira, outubro 29, 2010
quarta-feira, agosto 18, 2010
Como se pode pesar o Sol?
Receber corações complica o processo.
quarta-feira, agosto 11, 2010
(500) Days of Summer
(Author's Note: The following is a work of fiction. Any resemblence to persons living or dead is purely coincidental.
Especially you Jenny Beckman.
A explicação de todo o meu Eu
"Em primeiro lugar, quis fazê-lo à maneira russa: as conversas russas sobre este tema são travadas da maneira mais estúpida. Em segundo lugar, quanto mais estúpido, mais próximo do que interessa. Quanto mais estúpido, tanto mais claro. A estupidez é primitiva e simplista, enquanto o intelecto tergiversa e busca subterfúgios. O intelecto é vil, a estupidez é frontal e honesta. Levei a conversa até ao meu desespero e quanto mais estúpida foi a forma em que expus as coisas, mais vantajoso isso foi para mim."
Fiódor Dostoiévski
sexta-feira, julho 30, 2010
Vê-me
Estão a chegar-se… Cada vez mais perto, estão a chegar-se.
E eu vou sorrindo, como quem não percebe… Vou trocando o passo e desviando o assunto…
Vão falando de cores que pensam interessar-me, só que as linhas são mais rectas do que o seu gingar. Julgam-me mais do que me conhecem.
Dou um passo atrás, e sorrio, como manobra de diversão para me aperceber do espaço que ainda me resta…
A conversa continua e pergunto-me se não sou suficientemente clara...?! (talvez julguem que conseguem ver através de mim…) E, despercebidamente, dou mais um passo atrás.
Desviando o olhar, procuro em volta por algo inesperado que me salve e, sorrindo cada vez menos confortável, continuo a sentir chegarem-se…
Um sufoco começa a impedir que possa fingir mais que isto também faz sentido para mim...
Pronto!, já senti a parede fria nas minhas costas! Agora já não tenho espaço de manobra para escapar...!
(Não sei o que querem. Mas sei que é de mim… E isso, assusta-me.)
quinta-feira, julho 29, 2010
Descalça
Mas a razão mais proeminente poderá ser ainda, talvez, que já nos custa tanto andar que, quem sabe, descalços seja mais fácil... (nunca ouvi dizer que saltos altos eram mais confortáveis do que caminhadas na praia)
Porém, quando tiramos os sapatos e expomos a pele ao mundo exterior, é também de referir o quanto mais doi se pisarmos algo que não contávamos estar no chão.
Há muitos anos que tenho um pico no pé. Nunca o tirei. Ali está, já faz parte de mim. Já se acomodou à minha pele e é-me, agora, mais difícil arranjar coragem para enfiar uma agulha e tirar o pico, do que continuar a viver com ele. E, mesmo assim, continuo a tirar os sapatos...
Ainda no outro dia, por estar de sapatos, troquei o passo e caí. Não foi bonito. Foi um acontecimento extremamente humilhante - dado que assisti a tudo em câmara lenta e nada consegui fazer para o evitar - e francamente triste - dado que estava sozinha mesmo à porta de casa. (Não sei se se poderá considerar uma humilhação na ausência de alguém que nos julgue ou julguemos que assim o faz...?!) De qualquer forma, calçada, vestida e a carregar um montão de papéis, fiquei no chão, com um furo nas calças e as folhas a voarem consoante os sopros do vento que se sentiam nessa tarde, tão cansada, que poderia até ter sido derrubada por mais fraco acontecimento.
No sítio dos papeis, falávamos de tatuagens escondidas, como uma metáfora para uma personalidade oculta debaixo de fato e gravata num escritório com ar condicionado no máximo, enquanto lá fora o termómetro já rebenta os 31º. Riamos, mal sabendo os ténis sujos de concertos que guardo na mala chique que carrego em saltos agulha. Talvez também me tente elevar com tecidos mais finos e cortes mais formais. Mas, se já andei em pijama por Vila Nova de Mil Fontes, (de biquini nem conto os sítios!...) posso bem andar descalça por aí.
terça-feira, julho 13, 2010
Olhares Recíprocos
Dito isto, conclui-se que o romance e os jogos sedutores podem ter dois planos imaginários muito diferentes.
quinta-feira, julho 01, 2010
Uma Tarde
A porta da entrada do prédio estava entreaberta. No Inverno ainda havia o cuidado de baterem com força para a fechar; no Verão os estragos ajudavam a que corresse uma corrente de ar, ainda que quente (mas quem é que não gosta dessas aragens quentes de Verão?) pelo prédio antigo. Subiu os degraus de madeira (também ela de certa idade), acompanhada pelo ranger das tábuas que já tão bem conhecia, não poupando no entanto, a preguiça dum chinelar arrastado, como se o dia na praia a tivesse obrigado a carregar o sol em ombros até à cidade.
Quando chegou ao 3º andar, suspirou, e deu um último pesado passo, elevando o braço para bater à porta. Do lado de dentro do apartamento, ele gritou, como que por entre mil afazeres: "Já vai!". Ela estranhou - normalmente ele diria "entra..." e bastaria rodar a maçaneta, atirar-se para o sofá e ficar feliz por finalmente descansar sob a brisa que vinha da, estrategicamente localizada, janela, grande e quadrada que, de resto, se enquadrava na perfeição no traço antigo da casa. Quando não se entregava ao sofá, abria a janela, sentava-se no seu parapeito e passava ela a enquadrar-se numa foto em contra-luz extraordinária - mas não para ela, para ele. Nestes fins de tarde juntos, ela queixar-se-ía de como a vida era difícil ou contaria de um modo um bocado atabalhoado os últimos acontecimentos, misturando factos com o seu parecer, deixando-o apenas com um sorriso por ela ali estar, faladora e incerta, como sempre, sem dar importância, necessariamente, a todos os seus devaneios. Era o bastante vê-la ali, saber que estava ao seu lado, em oposição ao restante tempo dos dias em que só podia imaginar onde ela estaria, o que fazia e com quem estaria a partilhar as suas risadas, lamentos e observações. Mas não desta vez: o bastante já não era suficiente, e esta tarde não era como tantas outras - especialmente para ele.
Enquanto esperava do lado de fora, entrelaçava o cabelo por entre os dedos e bufafa de calor. Olhando em volta, aproveitava também para do mais pequeno pormenor (como estar ansiosa por ver a porta abrir-se e lembrar-se da música "Dá-me Luz" - da qual só sabia o título por relacioná-la à de Jorge Palma, "Dá-me Lume") tecer mais um dos seus fios de pensamento, tão disconexos para qualquer outra pessoa - e nem ela sabia a maioria das vezes lembrar-se como é que tudo tinha começado - mas tão típicos da sua mente: Lembrou-se da noite em que viu Jorge Palma sentado ao piano do Casino Estoril e na falta de interesse de tantos que se deslocaram lá, e lá, viravam as costas ao artista. Pensou na palavra "Respeito" e em como um dia, num qualquer país que já nem se lembrava ao certo, lhe "pediram" para vestir o casaco à entrada de uma Igreja. Ora, se para ir à Igreja, há que respeitar os princípios desta, para ir ver um espectáculo, há que prestar atenção!
As observações eram um traço marcante desta rapariga. Nem sempre eram ditas com noção de como soariam depois de expostas. Era comum dizer algo que não lhe parecia muito grave, para se aperceber logo após, pelo silêncio ou expressão facial de quem a acompanhava, que era julgada não ter coração ou o mínimo tacto para conseguir dizer o que dizia. Outra vezes, nem era necessário que abrisse a boca para espantar os outros - quando não sabia o que dizer, comportava-se de formas que ainda tornavam as suas poucas palavras piores do que o discurso mais hostil possível. Escusado será dizer que era uma pessoa... vá, digamos: Especial.
Para o leitor mais atento, poderá ainda colocar-se a seguinte dúvida: "Que tanto fazia o rapaz de especial dentro do apartamento nesta tarde?". Infelizmente, também nunca soube. Só sei relatar que de tanto esperar (ou apenas, "um pouco" bastante ampliado pela sua impaciência), ela já se tinha sentado nos degraus ao lado da porta branca do apartamento. De repente, ele abre a porta e logo lhe sorri, com nervos incendiando internamente um "é agora ou nunca!...". Ela levanta a cabeça e enquanto se ergue em gestos pesados do calor, esgotada e desesperada por se atirar ao sofá do outro lado, diz, já no fim da sua pequena gentileza: "Ainda bem que esperei sentada!...". Ouve-se uma porta bater! - resultado da corrente de ar que se gerou, não só no prédio como no íntimo daquele, agora menino, que viu apagar-se a chama e as expectativas que tinha para esta tarde que, por momentos desejou diferente, mas se revelou igual a tantas outras...
quarta-feira, maio 26, 2010
(Re)Pensar
Por encomenda comecei a pensar...
Por encomenda porque há já algum tempo tinha posto esse verbo de lado para me dedicar à arte sacra do "corpo são, mente sã".
A mente andava sã (por derivação filosófica da premissa que se verificava), sim senhor...
e vazia.
Nunca andei tão saudável. Que é como quem diz: sem preocupações.
As preocupações não as tinha porque não dava tempo ao pensar. E mesmo assim, o tempo faltava. Mas sendo filha dos meus pais e, com genes bem singulares, a falta de pensamento separava-me o Ser de quem sou.
Disse-lhe, convicta, que nada tinha a dizer ao mundo nesta altura. Tão convicta quanto vir aí o Verão e ser bem mais giro um bronze do que uma ideia. (Sempre é mais palpável!...) E agora que paro para pensar, lembro-me que ainda no outro dia estive a discutir a saúde mental até às 4h da manhã... (Parece que mesmo fugindo, as costuras da nossa génese não desprendem facilmente.)
Mas se ele não me tivesse espicaçado, dizendo que até o vazio é descritível (como se eu não soubesse!... Mania de me ridicularizar para, num toque de mestre, me fazer ver a fraca qualidade das minhas desculpas), não teria eu recomeçado a pensar.
A questão é que o meu vazio era mentiroso.
"Somos intermitentes como as luzes da árvore de Natal", tentei argumentar.
Talvez porque, nem mais nem menos, num Natal me tenhas dito o quanto gostava de ver as pessoas fazer coisas pequenas, trabalhos minuciosos... Queria ele dizer que há uma inocência enterrada pelas armas que temos de usar no mundo cruel e, brilha então, o primar por um pormenor simples, como enfiar uma linha numa agulha enquanto se põe a língua de fora. E envergonhei-me por querer ser mais do que um pensamento.
Lembrei-me disso. Lembrei-me que há ideias bonitas. E depois também que há sonhos que, para além de bonitos, são humildes. Esses eram os que o faziam sorrir. E sorrir nem sempre é fácil. Dominar o mundo pode ser espectacular mas é um objectivo um bocado solitário. (Deixemo-lo pelo caminho, sozinho na escorregadia estrada molhada que agora já faz sol e nada disso importa.)
Não me esqueço da arte do humor e da inteligência por detrás da parvoíce que me mostraste. E agora, já não vejo grande louvor em actos grandiosos. Enaltecer com um aplauso a magnificência de se ter muito que fazer e “arranjar-se” tempo para alguém, parece-me ignorante. Estar e, mencionar o quão apertado o sapato é e, o tempo e tamanho esforço que se fez para ali estar, é pequeno. Ser-se Grande é: ter-se muito que fazer mas estar-se com cada pessoa como se se tivesse todo o tempo do mundo para ela. Porque o tempo é igual para todos - 24h sem tirar nem pôr. O que nos diferencia é o que fazemos com ele. Escolhi passar este tempo a pensar em ti e no que me ensinavas, deixando passar as horas e a oportunidade de não pensar.
Penso que devias ser autronauta. Estando longe, poderias ignorar todas as pequenas coisas que perdem a importância quando vistas de um prisma global. (Ter a perspectiva certa sempre foi uma questão de posicionamento.) Mas, e daí, és tanto mais do que a soma das partes… O global não te assenta tão bem como a particularidade da piada parva no momento inoportuno.
Se calhar foi por isso que deixei de pensar… Estava enganada.
Ou então...
Bem, não me oiças. Não sei o que digo e já nem sei por que parei para pensar…