sexta-feira, setembro 25, 2009

Hvad med dig?

Elas andam disfarçadas.
Disfarçadas de fome, aos pulos para sair, e a roubar tempo à minha concentração..
Elas, as Saudades, que só existem em Portugal, e com as quais sempre adiei uma conversa em torno de um café.
O café aqui é sempre mais longo e, eu, na minha ingenuidade e crítica voraz depressa lhe chamei criança perto da bica curta (como aliás, as meninas minhas amigas) e forte lisboeta.
Mas se tamanho não é sinónimo de eficácia (já diziam as minhas amigas...), lhes digo que o café aqui tem mais efeito em mim.

Mas porque é que de saudades foste falar de café?!

Bom, talvez porque
Nunca soube expressar a saudade mas, enquanto a guardo cá dentro, escrevo por fora.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Roubei Uma Loira

Roubei uma loira ao meu amigo.
Ele, com o seu charme já reconhecido perante toda a comunidade estudantil, perguntava-lhe que línguas é que ela falava... Quando ela, de entre outras, disse português, ele num rompante me chamou e quis exibir-me (talvez achando que isso o fosse ajudar ou tornar a conversa mais interessante...) Infelizmente para ele, ela começou a falar cada vez mais comigo (talvez tenham sido os meus olhos amêndoados ou um sentimento de que eu a compreendia melhor que qualquer um dos que a rodeavam numa pacífica luta pela sua atenção).
Ao fundo gritavam e erguiam em braços o vencedor do torneio de uísque - aquele que virou uma garrafa sozinho primeiro. E ela continuava a falar-me sobre os assuntos menos esperados numa festa, como se o mundo todo estivesse parado, em absoluto silêncio e, só eu existisse agora e a nossa conversa; como se fossemos amigas e aquele momento fosse tal e qual como as duas de pijama, num sofá, a conversar às 4h da manhã, as duas, sobre o sexto sentido das nossas vidas.
"Todos correm e tens que parar e perguntar «Porquê?», «Para onde?». Saber se preferes correr na direcção oposta. Mesmo que não saibas (porque não o saberás), se é o correcto. Ter coragem de o assumir mesmo que ninguém te entenda e te chamem até de louca. Fazer o queres e não o que os outros querem de ti."
Entre este jorrar de ideias (ela falava como se estivesse quase febril ao mesmo tempo que feliz por ser diferente e ter perdido tempo a pensar que poderia Querer Ser Diferente) fazia algumas pausas para tentar apanhar o fio à meada do seu próprio pensamento e aproveitava para perguntar-me: "...Percebes...?".
"Todos queremos viajar mas poucos sabem porquê. Eu sei! - para conhecer as gentes..." (e eu que só queria ver o sol pôr-se em diferentes tons...) "....Quero falar com as pessoas. Mas não sobre os assuntos de sempre, as perguntas cliché, os interesses socialmente desejáveis. Não. Não sobre o que deveriamos falar, mas sobre o que queremos, o que pensamos..." (e eu que só vejo perguntarem "de onde és?" "o que há de interessante no teu país?") "...A opinião das Pessoas do Mundo e não só dos que «têm direito à opinião»."
Entre este minuto e aquele, confessa-me que só estuda Gestão porque... era preciso. Na verdade, queria ser psicóloga - "Se o teu avô pintasse um quadro, um bom psicológo poderia dizer, por exemplo, que ele se casou sem realmente o desejar, que é mais feliz aqui do que ali e que prefere isto e aquilo, e que a sua personalidade desenha-se a cada traço seu... Só pelas suas formas, cor e composição. É isso que eu quero." (e eu que me pergunto todos os dias o que Eu quero...)
As pessoas já começavam a interrompê-la e a puxar-me aqui e ali... Ela termina dizendo: "Ser para sempre e, lutar por ser, uma criança na ingenuidade de querer saber tudo, e ouvir, e aprender, sem a mente fechada, pré-concebida, organizada e trabalhada pela sociedade em que querem que te insiras."
(E eu que roubei uma loira ao meu amigo, e ela roubou-me um momento para que eu pudesse roubar-lhe as palavras e saber agora expressar parte do que também eu quero).

sábado, setembro 05, 2009

2+3 = 5 Homens; 23 anos, 5 de Setembro

Se tivesse que dizer qual a minha paixão, diria que é... perder-me.
Por aí, por ali... e acolá despertar subitamente e perceber que tenho de virar à direita. Não que seja de direita (de esquerda não serei certamente) mas, algures no meio de me perder e encontrar o caminho, há um momento só meu, onde saboreio a liberdade de existir sem que saibam que por aqui ando, quem sou e o que já fiz.
Não é então tanto o perder-me que me apaixona, como o que encontro enquanto me perco.
Tantas vezes guiei o carro sem saber por onde ir, apenas tendo em mente a noção de que o rio estava naquela direcção ou o mar e a serra da minha vila solarenga eram marcos para o nascer e o pôr-do-sol. Aprendi também (em terras do Amor) a meter um selim debaixo do rabo e perder-me no equilíbrio de duas rodas. Agora, mais para Norte (que sempre me disseram era para qualquer deambulador - "O que é isto?" "Então!, uma palavra nova..." "Pois, bem me pareceu..." -, ponto assente na bússola), a conquista ("Se calhar é um termo um bocado medieval, não?!" "SE calhar É... não é?!?... Quer dizer, não andamos praqui a Con-quis-tar!...") escreve-se em letras minúsculas, tímidas, envergonhadas por tanto poderem dizer e tão pouco espaço ocuparem.
Aqui fora, um luar inexplicável debruçou-se sobre as águas do canal, mansas, numa noite absolutamente inesperada em Copenhaga.
Ao voltar para casa, desviei-me do grupo (tinha mesmo de fazer aquilo... para ti, por nós). E quando o relógio marcou a hora certa, cá estava eu, e tu (desse lado),
como nunca,
como sempre.