Respirou ofegante por cima do meu ombro e, numa expiração, senti-lhe o hálito a álcool etílico puro.
Virei-me, a medo, e vi o pino de segurança da granada entre os seus dentes. E ele, de braços abertos, como se se entregasse, qual mártir, a uma causa cuja solução não era esta.
Conversar com uma granada pronta a rebentar na mão de alguém alcoolicamente alterado nunca foram boas condições para um diálogo.
Encostada à parede, digo a verdade (sempre me ensinaram que "quem diz a verdade, não merece castigo").
Aprendo que é tudo uma grande mentira.
A maior parte das pessoas que exige a verdade, não está pronta para tê-la. Quer saber porque se sente perdido... mas quando tem a informação na mão, não sabe o que fazer com ela e acaba por dar um passo atrás em vez de o passo em frente.
Quem se enche de coragem e diz a verdade é que acaba por ser recriminada, mesmo que a verdade dita não fosse o mais importante mas sim o facto de ter dito a verdade.
Ele larga a granada.