quarta-feira, maio 26, 2010

(Re)Pensar

Por encomenda comecei a pensar...
Por encomenda porque há já algum tempo tinha posto esse verbo de lado para me dedicar à arte sacra do "corpo são, mente sã".
A mente andava sã (por derivação filosófica da premissa que se verificava), sim senhor...

e vazia.
Nunca andei tão saudável. Que é como quem diz: sem preocupações.
As preocupações não as tinha porque não dava tempo ao pensar. E mesmo assim, o tempo faltava. Mas sendo filha dos meus pais e, com genes bem singulares, a falta de pensamento separava-me o Ser de quem sou.

Disse-lhe, convicta, que nada tinha a dizer ao mundo nesta altura. Tão convicta quanto vir aí o Verão e ser bem mais giro um bronze do que uma ideia. (Sempre é mais palpável!...) E agora que paro para pensar, lembro-me que ainda no outro dia estive a discutir a saúde mental até às 4h da manhã... (Parece que mesmo fugindo, as costuras da nossa génese não desprendem facilmente.)

Mas se ele não me tivesse espicaçado, dizendo que até o vazio é descritível (como se eu não soubesse!... Mania de me ridicularizar para, num toque de mestre, me fazer ver a fraca qualidade das minhas desculpas), não teria eu recomeçado a pensar.
A questão é que o meu vazio era mentiroso.

"Somos intermitentes como as luzes da árvore de Natal", tentei argumentar.

Talvez porque, nem mais nem menos, num Natal me tenhas dito o quanto gostava de ver as pessoas fazer coisas pequenas, trabalhos minuciosos... Queria ele dizer que há uma inocência enterrada pelas armas que temos de usar no mundo cruel e, brilha então, o primar por um pormenor simples, como enfiar uma linha numa agulha enquanto se põe a língua de fora. E envergonhei-me por querer ser mais do que um pensamento.

Lembrei-me disso. Lembrei-me que há ideias bonitas. E depois também que há sonhos que, para além de bonitos, são humildes. Esses eram os que o faziam sorrir. E sorrir nem sempre é fácil. Dominar o mundo pode ser espectacular mas é um objectivo um bocado solitário. (Deixemo-lo pelo caminho, sozinho na escorregadia estrada molhada que agora já faz sol e nada disso importa.)

Não me esqueço da arte do humor e da inteligência por detrás da parvoíce que me mostraste. E agora, já não vejo grande louvor em actos grandiosos. Enaltecer com um aplauso a magnificência de se ter muito que fazer e “arranjar-se” tempo para alguém, parece-me ignorante. Estar e, mencionar o quão apertado o sapato é e, o tempo e tamanho esforço que se fez para ali estar, é pequeno. Ser-se Grande é: ter-se muito que fazer mas estar-se com cada pessoa como se se tivesse todo o tempo do mundo para ela. Porque o tempo é igual para todos - 24h sem tirar nem pôr. O que nos diferencia é o que fazemos com ele. Escolhi passar este tempo a pensar em ti e no que me ensinavas, deixando passar as horas e a oportunidade de não pensar.

Penso que devias ser autronauta. Estando longe, poderias ignorar todas as pequenas coisas que perdem a importância quando vistas de um prisma global. (Ter a perspectiva certa sempre foi uma questão de posicionamento.) Mas, e daí, és tanto mais do que a soma das partes… O global não te assenta tão bem como a particularidade da piada parva no momento inoportuno.

Se calhar foi por isso que deixei de pensar… Estava enganada.

Ou então...

Bem, não me oiças. Não sei o que digo e já nem sei por que parei para pensar…